Por Susana Pedro
Acedo ao “link” que me conduz a mais uma reunião. Um ecrã separa-nos e confina-nos a um rectângulo demasiado pequeno para quem tem o hábito de recorrer frequentemente aos gestos para dar força às palavras. Tento não sair da caixa, mas as rodas da cadeira e a posição das pernas convidam ao balanço. Concentro-me. Nos meus movimentos e nas palavras dos interlocutores.
Numa das últimas reuniões presenciais em que participei, lembro-me de uma sala composta assistir à minha epopeia de tentar desenrolar os cabos do projetor que, quando finalmente parecia terminada, resultou numa incompatibilidade com a entrada do computador. Naquele dia não houve projeção de imagem, mas aqueles longos minutos aparentemente perdidos, foram compensados pelas conversas paralelas e pelo bom ambiente que se gerou.
É mais difícil fazê-lo agora. Entre nós está um ecrã e as suas quatro arestas tornam tudo mais formal e sério.
Preparamo-nos para adaptar as sessões da Sociedade do Bem nas escolas à nova realidade. Mas estejamos nós atrás de um ecrã ou atrás de uma máscara, nada será como dantes. Não até haver uma vacina que nos proteja a todos.
Faz falta a conversa no corredor antes de entrar para a sala, faz falta o abraço à chegada, faz falta o olhar que nos diz que naquele dia alguma coisa não está bem, faz falta o bilhete com corações amassado.
Faz falta conviver, brincar, saltar, correr e faz falta poder escolher não conviver, não brincar, não saltar ou correr.
Faz falta olharmo-nos nos olhos uns dos outros, ouvirmos o barulho dos lápis a colorirem as folhas, sentirmos o cheiro da nossa sala de aula, provarmos a refeição partilhada no refeitório e tocarmo-nos. Puxarmo-nos. Agarrarmo-nos. Abraçarmo-nos.
Temos tantos projetos a nascer e é tão difícil levá-los às crianças, com tanta coisa que faz falta. A presença das crianças faz-nos falta.
Mas os projetos continuam e este mês é lançado o livro “10 histórias para ensinar às crianças o que são as emoções”, escrito por mim, ilustrado pelo Pedro Benvindo e com prefácio escrito pelo Pediatra Mário Cordeiro.
Para já, é um lançamento sem lançamento. Entristece-me pensar que o livro chegará às livrarias sem que celebremos esse evento todos juntos, mas fica prometido esse encontro para mais tarde, quando a pandemia tiver passado.
Porque até estarmos todos juntos outra vez, nenhuma ideia, projeto ou celebração terá o mesmo encanto. Mas cá estaremos, a tentar fazer destas quatro arestas as janelas que nos ligam uns aos outros, que nos ligam ao mundo.